Histórias d' avó Inha

terça-feira, dezembro 12, 2006

O cão chamado «Bill»


Uma das histórias que a minha neta Sara mais gosta é a do cão que tínhamos quando éramos pequenos.
Nesta altura já éramos seis irmãos e eu já devia ter uns dezoito anos.
Este cão a quem demos o nome de «Bill», e era filho da nossa «Fifi», a cadela mais linda e querida que tivemos.
Era parecido com o cão da fotografia em cima, mas com o pêlo castanho dourado, parecia uma salsicha, talvez por ser da cor das salsichas, muito comprido para o tamanho das pernas e com umas orelhas que quase batiam no chão.
Este cão era meio tolo.
Havia por perto uma macaca, que, volta que não volta, se soltava e vinha para o nosso jardim. Colocava-se numa árvore baixa para ficar com a cauda quase a bater no chão e assim roçar no focinho do Bill. E roçava a cauda até que este ficava zangado. E como era meio tolo, ficava especado junto da árvore a latir até ficar cansado. Quando parava de latir para descansar, ou porque se distraía, a macaca descia do galho e pregava-lhe dois estalos com força, trás, trás, com aquelas mãozinhas muito pequenas. O Bill ficava louco e lá voltava tudo ao princípio, latir.
A cena repetia-se uma vez mais, a macaca roçava a cauda no focinho do Bill, o Bill latia, latia, cansava-se, parava de latir e a macaca com a destreza dos macacos, descia do galho e voltava a dar-lhe dois estalos, trás, trás.
Coitado do Bill, sofria a bem sofrer por não poder dar uma dentada na macaca.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

A galinha «Tintim»


Na altura em que se passa esta história eu devia ter uns seis anos.
Na nossa casa havia um galinheiro com algumas galinhas e um galo.
Uma das galinhas pôs os seus ovos e chocou-os sempre com muito cuidado, pois as galinhas são muito boas mães.
Passaram alguns dias e os pintainhos nasceram, todos amarelinhos, pareciam uns novelinhos de lã e, logo logo, saíram do ninho atrás da mãe galinha e foram para o jardim esgravatar e procurar minhocas para comer.
Numa noite a nossa Mãe, a Gigi, esqueceu-se de levar a galinha para o galinheiro. A galinha dormiu no jardim com os seus pintainhos.
Por azar, naquela noite apareceu no jardim um cão muito grande. Soltou-se do seu quintal e veio para o nosso jardim. Além de estragar os canteiros com flores, matou a galinha e os pintainhos.
De manhã cedinho, a Gigi veio ao jardim ver que barulho tinha sido aquele durante a noite. Deu com um monte de penas e nada de galinha e nada de pintainhos. Viu logo o que tinha acontecido. O maroto do cão matou a galinha e os pintainhos. Ficou muito triste com o acontecido, mas, de repente começa a ouvir um piu, piu, piu.
- Oh, que se passa? comentou a Gigi.
Debaixo de uma folha estava escondido um dos pintainhos. Como ficou muito quietinho debaixo da folha, o cão não deu por ele.
A Gigi pegou nele, levou-o para a cozinha e deu-lhe de comer. Eu e a minha irmã Mizé arranjámos uma caixinha onde o colocámos e o nome «Tintim» foi o nome mais giro que arranjámos. À noite pedimos à Gigi para que o pintainho ficasse na cozinha a dormir.
Entretanto o Tintim cresceu e virou uma linda galinha. Apesar de ser uma galinha e não um galo, para nós ficou sempre o Tintim. As penas eram vermelhinhas e tinha uma crista toda aprumada e muito berrante.
Já não podia ficar na cozinha a dormir. Ia para o galinheiro. Todas as manhãs quando a Gigi abria a porta da cozinha, lá aparecia o Tintim para vir comer.
Mas sabem o que acontecia? Mal entrava em casa o Tintim em vez de ir comer, corria para os nossos quartos, voava para cima das nossas camas, bicava as nossas orelhas até que acordássemos. Claro que era uma brincadeira pegada.
Nós fingíamos que estávamos a dormir para o Tintim nos bicar.
Bicadinhas de meiguice, pois não nos magoava. Mal pressentia que já estávamos acordados ia para a outra cama e assim acordava-nos a todos.
Era uma risota pegada e o Tintim percebia isso.

domingo, dezembro 10, 2006

O elefante bébé

Na altura em que esta história se passa ainda só éramos quatro irmãos e já vivíamos em Luanda.
O elefante bébé veio parar a nossa casa por um período muito pequeno e porque era o único lugar onde havia quem olhasse pelo animal. Na altura capturavam animais para o Jardim Zoológico de Lisboa.
Eu devia ter uns cinco ou seis anos. Mas lembro-me bem do elefante e de estarmos todos à janela a vê-lo.
O nosso Pai resolveu ir ao jardim onde estava preso o elefante. Estava calor e os elefantes precisam de ter a pele molhada. O nosso Pai pegou na mangueira de regar o jardim, abriu a torneira e começou a molhá-lo.
O elefante, todo contente, enchia a tromba de água e molhava-se todo. Enchia novamente a tromba e voltava a borrifar-se. Ninguém contava que ao encher uma vez mais a tromba fizesse o que fez.
Oh! que Loucura!
O elefante, levantou a tromba e borrifou com aquela água toda o nosso Pai, ficando todo molhado.
Fartámo-nos de rir com o banho.
Quem não gostou da brincadeira foi o nosso Pai, mas como nós nos riamos a bom rir, também começou a rir.

sábado, dezembro 09, 2006

As histórias da Inha

O que vou contar a seguir são histórias que tenho vindo a escrever e que até hoje não foram lidas.

As histórias que vos vou contar são passadas bem longe de Portugal, em Angola, para onde os meus Pais resolveram ir quando se casaram.
Já lá nasceram todos os filhos.


Primeiro o João, que nasceu em Luanda (Luanda antiga, não a Luanda da imagem) pouco tempo depois dos Pais lá chegarem e que lá continua a viver.

Baía de Luanda
Depois a Inha e logo a seguir a Mizé que já nasceram no sul de Angola, em Moçâmedes, zona onde se encontra o deserto do Namibe, conhecido por ter uma planta, única no mundo, e que se chama Welwitchia Mirabilis.
Deserto do Namibe

O Zé veio um pouco mais tarde.
Nessa altura já estávamos no leste de Angola, no Moxico.

Moxico
Depois dos Pais terem voltado para Luanda, nasceram o Manel António e a Teresa, que são bastante mais novos do que os primeiros filhos. Assim a família cresceu. Passámos a ser seis irmãos. Morávamos numa casa muito bonita, com um jardim a toda a volta, todo relvado e cheio de canteiros de flores.
Por essa razão tínhamos sempre animais.
Lembro-me de um coelho todo branquinho com olhos vermelhos, de um cágado que andava sempre escondido debaixo dos arbustos, um cabritinho que esteve pouco tempo lá em casa, perús, papagaios, gatos, cães. Até um elefante bébé andou lá por casa. Ficou até ser embarcado para Lisboa, parece que iria para o Jardim Zoológico.
Sempre que encontrávamos algum animal lá o levávamos para casa.
Assim, aconteceram diversas histórias, algumas engraçadas, outras assim assim e que vou tentar contar para os meus netos e sobrinhos netos, se as quiserem ler.